Mergulho Profundo – Rendição à Pressão

Há tempos assisti a uma entrevista com a campeã do mundo de mergulho profundo na modalidade de lastro constante. Falando sobre a experiência do mergulho profundo, referiu-se à capacidade de rendição à pressão como crucial para o sucesso de um mergulho – à medida que o corpo desce, e aumenta progressivamente a pressão a que é sujeito, a rendição à pressão consiste em relaxar o corpo, numa entrega à força da água – reduzir a resistência, sustentar a integridade da estrutura, mantendo o foco e a direcção, tranquilamente.
A descrição do extraordinário mergulho de Alenka Artnik é impressionante. Numa manhã de Novembro de 2020, ao largo da costa egípcia, nas águas mornas do Mar Vermelho, vestida com um fato de mergulho fino de cor roxa, de monobarbatana, e um peso de kilo e meio à volta do pescoço, inspira e mergulha, sem máscara, seguindo um cabo que desce à profundidade de 114m.
Ela mantém-se presente e calma. De pulmões cheios de ar, desce no profundo azul, impulsionada pelo batimento das pernas.
Em descidas de água profunda, a pressão barometrica aumenta a cada 10m – aos 20m de profundidade os pulmões de Alenka são comprimidos para um terço da sua capacidade – nesta altura desloca para a boca o ar necessário para equalizar os pulmões. Na eventualidade de os lábios deixarem escapar ar, o risco e o perigo tornam o mergulho inviável.
Aos 70 metros Alenka fecha os olhos, pára os batimentos de pernas e é sugada para baixo pelo ímpeto de sucção – rende-se à queda livre – suspende o pensamento e o movimento – o pensamento requer oxigénio. Na descida progressiva nota o aumento de pressão – como um abraço do oceano.
Quando o relógio de mergulho assinala 109 metros, a cinco metros do objectivo, o mergulho já dura há quase dois minutos. Abre os olhos quando chega ao fim do cabo, recolhe uma marca de controle, vira-se e inicia a ascensão. Para regressar à luz e ao ar, tem agora que nadar contra o peso da água, o que se assemelha a nadar contra a corrente.
A próxima inspiração está a quase dois minutos de distância.
A subida é a parte mais perigosa de qualquer mergulho profundo porque o nível de oxigénio dos mergulhadores está muito baixo, colocando-os em risco de desmaio. Mergulhadores de segurança acompanham os atletas, treinados na observação de sinais de hipoxia, para em caso de perigo os agarrarem e conduzirem à superfície.
Alenka mantém os batimentos de pernas equilibrados e harmoniosos, assomando tranquilamente à superfície depois de um mergulho de três minutos e 41 segundos.
Segura o cabo, inspira rápida e repetidamente para promover a re-oxigenação. Cumpre todos os protocolos de superfície necessários para o juíz. Alenka remove a mola do nariz, apresenta a sua marca de controle, e diz as palavras ansiadas, suave mas claramente, “estou bem.”
A descrição do mergulho é uma adaptação e tradução livre da reportagem de Adam Skolnick – NYT