O diafragma pélvico, ou chão pélvico é uma estrutura muscular fundamental que pode perder tónus e funcionalidade por várias razões – na mulher as razões apontadas podem ser padrões de sedentariedade, e mais especificamente a gravidez e a menopausa.
O efeito mais desagradável e mais referido é a incontinência – mas a saúde do diafragma pélvico tem uma importância mais vasta para o alinhamento estrutural integrado. Na literatura das artes marciais só muito recentemente se começa a abordar a especificidade da fisiologia feminina.
Recentemente, vi um anúncio num canal de televisão nacional em que, de uma forma desplicente, a incontinência feminina era resolvida com pensos higiénicos. Esta é uma normalização leviana que se aproveita da falta de informação relativa a este assunto delicado – e que me leva a propor este programa especial de prática. Vamos conhecer melhor a anatomia e a funcionalidade estrutural do diafragma pélvico – aplicando essa percepção na prática do Chi Kung com indicações simples para uma prática de fortalecimento e manutenção de um pélvis saudável.
E quando se sente realizado, ou por assim dizer, quando atinge um estado de graça, o Homem desiste de fingir que é Deus. Isto é, não se sente obrigado a desenhar, a pintar, a descrever por palavras ou por música o que vê à sua volta. Deixa acontecer.
E só precisa de olhar em frente o mundo para descobrir que o ser humano é bem capaz de ser uma obra-prima.
Henry Miller – Stand still like a hummingbird – 1962
Nos ensinamentos das Upanishads encontramos a ideia de felicidade como natureza essencial – liberta da noção de causa e efeito. A experiência desta felicidade essencial pode ser expressada na música, na dança, na arquitetura e em muitas outras formas de vida – o Chi Kung é uma forma de a expressar.
A prática não traz nada – é uma oportunidade extraordinária de expressar o estar vivo – é aceder a um estado de graça.
Tudo no vivo é simplesmente articulação da respiração: da percepção à digestão, do pensamento ao gozo, da palavra à locomoção. Emanuele Coccia – A Vida das Plantas
Práticas de Cuidado e Utopia – 4ª edição – via Zoom
com Margarida Bettencourt
Tendo como referência o enunciado de que a respiração está no fundo de todas as nossas experiências, o programa é dedicado a uma imersão neste movimento primordial – sondar, apreciar, decifrar, intuir – respirar para saborear o mundo.
O programa pretende explorar e integrar a experiência mais racional e analítica do lado esquerdo do cérebro, com o lado direito que tem a faculdade de contemplar a dimensão profunda e misteriosa da realidade, do corpo e da vida.
Exercícios de respiração, percepção e consciência do aparelho respiratório, relação da respiração com o sistema neuro-vascular – uma prática de dedicação profunda incorporando de uma forma experiencial a anatomia e funcionalidade do aparelho respiratório – explorando a forma de habitar o corpo e ser no mundo.
O treino nas posturas arquetípicas Zhan Zhuang – interrogar o corpo, a sua forma, a sua consistência dentro do sopro – numa imersão vibrante em que deixa de existir oposição entre movimento e imobilidade.
Sessão de duas horas – 20 de Março de 2021 – 10.00 às 12.00
5 sessões de 30 min – 22 a 26 de Março – 8.00
O programa consiste numa sessão de imersão profunda de duas horas – e cinco sessões matinais breves. As sessões matinais serão gravadas e disponibilizadas aos participantes que não tenham disponibilidade no horário indicado.
O intuito é potenciar a criação de um treino regular autónomo através da prática de integração e exploração durante a semana seguinte.
Há tempos assisti a uma entrevista com a campeã do mundo de mergulho profundo na modalidade de lastro constante. Falando sobre a experiência do mergulho profundo, referiu-se à capacidade de rendição à pressão como crucial para o sucesso de um mergulho – à medida que o corpo desce, e aumenta progressivamente a pressão a que é sujeito, a rendição à pressão consiste em relaxar o corpo, numa entrega à força da água – reduzir a resistência, sustentar a integridade da estrutura, mantendo o foco e a direcção, tranquilamente.
A descrição do extraordinário mergulho de Alenka Artnik é impressionante. Numa manhã de Novembro de 2020, ao largo da costa egípcia, nas águas mornas do Mar Vermelho, vestida com um fato de mergulho fino de cor roxa, de monobarbatana, e um peso de kilo e meio à volta do pescoço, inspira e mergulha, sem máscara, seguindo um cabo que desce à profundidade de 114m.
Ela mantém-se presente e calma. De pulmões cheios de ar, desce no profundo azul, impulsionada pelo batimento das pernas.
Em descidas de água profunda, a pressão barometrica aumenta a cada 10m – aos 20m de profundidade os pulmões de Alenka são comprimidos para um terço da sua capacidade – nesta altura desloca para a boca o ar necessário para equalizar os pulmões. Na eventualidade de os lábios deixarem escapar ar, o risco e o perigo tornam o mergulho inviável.
Aos 70 metros Alenka fecha os olhos, pára os batimentos de pernas e é sugada para baixo pelo ímpeto de sucção – rende-se à queda livre – suspende o pensamento e o movimento – o pensamento requer oxigénio. Na descida progressiva nota o aumento de pressão – como um abraço do oceano.
Quando o relógio de mergulho assinala 109 metros, a cinco metros do objectivo, o mergulho já dura há quase dois minutos. Abre os olhos quando chega ao fim do cabo, recolhe uma marca de controle, vira-se e inicia a ascensão. Para regressar à luz e ao ar, tem agora que nadar contra o peso da água, o que se assemelha a nadar contra a corrente.
A próxima inspiração está a quase dois minutos de distância.
A subida é a parte mais perigosa de qualquer mergulho profundo porque o nível de oxigénio dos mergulhadores está muito baixo, colocando-os em risco de desmaio. Mergulhadores de segurança acompanham os atletas, treinados na observação de sinais de hipoxia, para em caso de perigo os agarrarem e conduzirem à superfície.
Alenka mantém os batimentos de pernas equilibrados e harmoniosos, assomando tranquilamente à superfície depois de um mergulho de três minutos e 41 segundos.
Segura o cabo, inspira rápida e repetidamente para promover a re-oxigenação. Cumpre todos os protocolos de superfície necessários para o juíz. Alenka remove a mola do nariz, apresenta a sua marca de controle, e diz as palavras ansiadas, suave mas claramente, “estou bem.”
A descrição do mergulho é uma adaptação e tradução livre da reportagem de Adam Skolnick – NYT
Uma hora depois de nascer o bebé humano começa a imitar os gestos dos adultos que o rodeiam, e demonstra claramente regozijo com as respostas que obtém; reconhecemos assim uma relação íntima entre as acções do corpo dos outros e os nossos estados internos. A neurociência contemporânea diz-nos que o movimento do corpo é um dos processos mais importantes na aprendizagem sobre nós próprios e na descoberta do mundo que nos rodeia. Os movimentos do corpo criam as nossas ideias e sentimentos – gestos não são apenas reflexos do pensamento, ajudam a formar o pensamento.
Este programa propõe a devoção ao corpo – no movimento de profundo reparar.
Modalidades
Com o intuito de ter uma oferta mais flexível e versátil de possibilidades de prática permitidas por este formato online, serão disponibilizadas as seguintes modalidades, todas via Zoom:
Aulas regulares nos dias e horários que já estavam estabelecidos – detalhes do programa abaixo
2ª feira – 9.00 às 10.15 – 18 Movimentos de Tai Chi – Shibashi
3ª feira – 19.00 às 20.15 – Treino da Quietude – Zhan Zhuang
5ª feira – 19.00 às 20.15 – Passos em Chi Kung – a Dança da Saúde
Valor – 5€ por aula / 40€ livre trânsito mensal
Acesso às gravações das aulas regulares – as aulas regulares serão gravadas e disponibilizadas a quem pretende frequentar o programa – não podendo estar presente por incompatibilidade de horários.
Valor – 5€ por aula / 40€ livre trânsito mensal
Sessões de Aprofundamento e Investigação – duas horas de prática, um sábado por mês, com tema a anunciar.
Próxima data 16 de Janeiro – 10.00 às 12.00
Valor – 20€ por sessão de duas horas
Sessões Individuais de Tutoria – sessões de prática com duração de 50 min., acompanhamento individualizado, marcação em horário a combinar.
18 Movimentos – Shibashi – 2ª feira – 9.00 às 10.15
Shibashi, também conhecido por Tai Chi Chi Kung em 18 movimentos é um sistema de exercícios com movimentos fluídos e contínuos. É um sistema bastante recente, criado em 1982 , e que se tornou uma disciplina obrigatória dos cursos de Medicina Tradicional Chinesa. Atribui-se a estes movimentos efeitos tonificantes e relaxantes consideráveis, que potenciam o fluir harmonioso da energia dos meridianos. Os exercícios introduzem elementos básicos de transições de peso, coordenação de braços e pernas, e integração da respiração com o movimento. Os movimentos são suaves e fluídos, com estiramentos moderados combinados com respiração coordenada, encorajando a libertação de tensões profundas nos tecidos dos sistemas musculares e neuro-vasculares.
Treino da Quietude – 3ª feira – 18.45 às 20.00
Com muito pouco movimento exterior, Zhan Zhuang é das formas mais potentes da disciplina de Chi Kung. Trata-se de um sistema singular que trabalha o funcionamento do corpo humano através de uma série de posturas cuidadosamente escolhidas ao longo de uma tradição milenar.
A prática sugere o desenvolvimento de grande força interna, como a que se desenvolve numa árvore magnífica. Estes exercícios podem ser praticados por qualquer um, sendo irrelevante a idade ou estado de saúde. Os movimentos e posturas são simples e a forma como afectam cada um depende das necessidades e capacidades individuais.
Interiormente alerta, aberto, calmo.
Exteriormente vertical, expansivo, de espírito pleno.
Este é a fundamento da quietude.
Juntar o duro e o suave, o poderoso e o folgado,
Movimento e quietude, contração e expansão:
No momento de convergência, existe poder.
Wang Xiang Zhai
Passos em Chi Kung e Dança da Saúde – 5ª feira – 18.45 às 20.00
Quando caminhamos movemo-nos de um lugar para outro usando as pernas. É um processo de mudança – e os processos de mudança podem ser dramáticos e desafiantes – expõem-nos à vulnerabilidade e à inquietação. Todas as grandes tradições de pensamento e reflexão investigam os processos de mudança e como lidamos com eles. Numa prática profunda de corpo, a disciplina do treino dos passos integra conceitos contraditórios – a quietude e o movimento – criando um treino na demanda de um equilíbrio flexível e dinâmico. A Dança da Saúde integra e explora estas noções dando espaço a uma forma mais espontânea e livre de habitar o corpo e a prática.