Há alguns anos orientei uma aluna de dança num exercício de composição que ía ser apresentado como prova final da disciplina no último ano de formação na Escola de Dança do Conservatório Nacional. A tensão e o nervosismo era o habitual num contexto de trabalho em que o corpo é sujeito a uma rotina exigente e rigorosa, e em que o stress acaba por ser parte integrante do processo de trabalho.
Ela lesionou-se gravemente num pé poucas semanas antes da apresentação do exercício. Não estar presente na apresentação final era inaceitável para ela. Sugeri então que fizesse o seu trabalho numa cadeira, integrando de forma autêntica a informação que esta situação lhe oferecia. O seu trabalho transfigurou-se e surgiu uma capacidade de escuta, de seguir impulsos subtis do corpo, uma profundidade e sensibilidade que anteriormente não estavam presentes. Este abrandar forçado permitiu-lhe encontrar o movimento.