Devagar se vai ao longe

countryroad

Recentemente comprei um carro elétrico. Neste texto não pretendo desenvolver  ou opinar sobre as vantagens e desvantagens do carro elétrico no que concerna a opções  ecológicas de transporte. Interessa-me explorar como pode ser transformadora e inspiradora a prática de conduzir um carro eléctrico.

Tenho um carro da gama mais baixa do mercado o que quer dizer que tem uma autonomia bastante limitada, cerca de 170km. No entanto, esta é uma autonomia aproximada que depende totalmente do tipo de condução. Se usarmos uma condução desportiva e acelerada esta autonomia reduz drasticamente, o que implica ter que carregar a bateria mais vezes ou correr o risco de ficar algures sem bateria. Para usufruir da economia que um veículo elétrico pode oferecer temos que ter disciplina e ser comedidos. O ser comedido é bastante literal, especialmente no início. Planeio com bastante rigor e faço contas ao trajecto para ver se vou precisar de carregar a bateria durante a viagem. Viajo com medida. Tenho que calcular e pensar. Isto é transformador no sentido em que faço escolhas e tomo decisões sobre como gerir o gasto de energia nas minhas deslocações. Quando se programa um treino físico também se faz isso, logo isto é algo que me é familiar, e tem sido muito interessante aplicar este conhecimento na relação com a condução de um veículo elétrico.

Há outro aspecto muito significativo. O veículo elétrico tem um sistema que se chama travagem regenerativa, a qual se traduz na conversão em energia, que serve para carregar a bateria, de cada vez que o condutor trava ou alivia o acelerador. Aliviar o acelerador e travar, carrega a bateria. Há para mim algo de verdadeiramente revolucionário neste conceito: abrandar e travar para ir mais longe! Aceitando condições em que nos estabelecemos limites e refreamos impulsos desnecessários começamos a agir subtilmente sobre o nosso sistema nervoso com efeitos ao nível emocional, psicológico e físico. Na rotina diária pode estar o potencial de transformação que muda a perspectiva e a forma como decidimos o que precisamos. Isto pode abranger as dimensões pessoais, familiares, sociais, políticas, económicas e culturais.

O movimento Occupy Wall Street continha em si uma proposta revolucionária com um  espírito similar. A ideia fundamental era iniciar uma grande travagem  para podermos planear como prosseguir. Travar era essencial, e pensar também o era. Nestes tempos de urgência pensar é necessário. Passámos o último século a mudar o mundo a uma velocidade vertiginosa. Temos que parar, olhar para trás e reflectir. Continuamos a ter o impulso de reagir e agir. Precisamos mais de abrandar e parar.

Look at all the roads
Look at all the crossings
Taking steps is easy
Standing still is hard
You’ve got time ( Regina Spektor)

 


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